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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O Preço da Polarização: O Que Fica de Fora do Debate Nacional

 

O Preço da Polarização: O Que Fica de Fora do Debate Nacional

A polarização política tornou-se um dos traços mais marcantes da democracia brasileira contemporânea. Nas últimas décadas, o Supremo Tribunal Federal (STF) saiu do papel de árbitro discreto e passou a ocupar o centro do palco político. Julgamentos que antes ficavam restritos ao noticiário jurídico hoje mobilizam audiências, pautam o debate público e influenciam diretamente o resultado de eleições. O caso das anulações das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2021, e os processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e os atos de 8 de janeiro de 2023 são exemplos de como a Corte se transformou em um ator central na vida política nacional.

Contudo, enquanto o país se envolve emocionalmente nesses embates, problemas estruturais – que determinam o futuro da economia e o bem-estar coletivo – permanecem sem solução. É essa distração coletiva que representa o verdadeiro “preço da polarização”: um custo social e econômico alto, que se traduz em ineficiência do Estado, aumento de carga tributária e perda de competitividade.


Judicialização da Política e Politização da Justiça

Do ponto de vista teórico, o Brasil é um dos países em que mais se observa a chamada judicialização da política – fenômeno em que temas tradicionalmente resolvidos pelo Legislativo e pelo Executivo passam a ser decididos pelo Judiciário. Essa realidade se explica, em parte, pela Constituição de 1988, que ampliou o rol de direitos fundamentais e deu ao STF a função de guardião da Carta Magna (CANOTILHO, 2013; MENDES et al., 2023).

A judicialização, por si só, não é negativa: pode representar uma garantia contra abusos de poder e uma forma de proteger minorias. O problema surge quando há politização da justiça, isto é, quando decisões judiciais passam a ser lidas – e utilizadas – como instrumentos de luta política. É o que ocorre quando o julgamento de Lula é narrado como uma vitória de uma facção ideológica e não como uma aplicação do princípio do juiz natural, ou quando decisões contra Bolsonaro são vistas como “perseguição política” por seus apoiadores, independentemente de seu fundamento jurídico.


Caso Lula: Anulação das Condenações e Retorno ao Cenário Político

A guinada decisiva aconteceu em março de 2021, quando o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, decidiu de forma monocrática anular todas as condenações de Lula proferidas pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Fachin entendeu que os processos não tinham relação direta com os desvios da Petrobras, núcleo da Lava Jato, e portanto deveriam tramitar em outra jurisdição.

Em 15 de abril de 2021, o plenário do STF confirmou essa decisão por 8 votos a 3. Votaram a favor Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Rosa Weber, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux. Votaram contra Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio Mello e Kassio Nunes Marques.

Importante destacar que a decisão não declarou Lula inocente, mas restaurou sua presunção de inocência, anulando os processos por vício de competência e determinando que fossem remetidos para a Justiça Federal do Distrito Federal. O efeito político foi imediato: Lula voltou a ser elegível e concorreu às eleições presidenciais de 2022.


Caso Bolsonaro e os Atos de 8 de Janeiro

No extremo oposto do espectro político, Jair Bolsonaro enfrenta processos no STF relacionados a suposta incitação a golpe de Estado e participação indireta nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas em Brasília.

Esses casos são julgados pela Primeira Turma do STF, composta por Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. A presença de três ministros indicados por Lula (Cármen, Dino e Zanin) gera críticas de parcialidade, mas, juridicamente, não há impedimento automático. A Constituição presume a imparcialidade dos ministros, e cabe à defesa apresentar pedidos de suspeição com base em fatos concretos.

Um ponto controverso é o acúmulo de funções por Alexandre de Moraes, que atua como relator, determina diligências e prisões e participa do julgamento do mérito. Para as defesas, isso viola o princípio do juiz natural e o sistema acusatório previsto no artigo 129 da Constituição. Para o STF, trata-se de cumprimento regimental e garantia de uniformidade na condução de casos que ameaçam a ordem democrática.


O STF como Tribunal de Massa

Os atos de 8 de janeiro também expuseram outro fenômeno: o STF assumiu o julgamento de centenas de réus, inclusive pessoas sem foro privilegiado, transformando-se em tribunal de primeira e única instância. Para alguns juristas, isso restringe o duplo grau de jurisdição e sobrecarrega a Corte com tarefas instrutórias. Para outros, foi medida necessária para evitar decisões conflitantes e dar resposta rápida à gravidade do ataque às instituições.


O Custo da Máquina Pública

Enquanto esses embates ocupam o noticiário, a máquina pública continua cara e ineficiente.

  • Câmara dos Deputados: cada deputado custa, em média, R$ 2,5 milhões por ano somando salário, verbas de gabinete, equipe e benefícios (CLP, 2024). A recente aprovação de aumento de 18 cadeiras na Câmara dos Deputados, para adequação ao Censo 2022, adicionará mais de R$ 90 milhões por ano aos cofres públicos, sem contar o efeito cascata sobre assembleias estaduais e câmaras municipais.

  • STF: o orçamento anual do Supremo foi de cerca de R$ 850 milhões em 2024 (Portal da Transparência, 2024). Considerando os 11 ministros, o custo médio por cadeira é de R$ 77 milhões/ano, incluindo assessores (cada ministro conta com 30 a 35), estrutura de segurança, manutenção e tecnologia.

Comparativamente, cortes constitucionais de países como Alemanha (Bundesverfassungsgericht) e Reino Unido operam com orçamentos muito menores – cerca de R$ 190 milhões e R$ 88 milhões respectivamente – e número reduzido de processos, pois atuam apenas em questões estritamente constitucionais (LENZA, 2023).


Café, Suco e Impostos

Para tangibilizar o impacto no dia a dia, pense no preço do café e do suco de laranja:

  • Café em pó: preço médio de R$ 22,00/kg (IBGE, 2025). Incidência de ICMS (12%), PIS/Cofins (9,65%) e tributos sobre produção. Quase 40% do valor vai para o Estado.

  • Suco de laranja integral: preço médio de R$ 9,50/L, com aproximadamente 33% de carga tributária, considerando ICMS, PIS/Cofins e contribuições da cadeia.

Ou seja, ao tomar café da manhã, o cidadão está ajudando a financiar não apenas serviços essenciais, mas também o custo do Legislativo, do Judiciário e de toda a estrutura estatal.


Comparativo Internacional

País / CorteNº de JuízesOrçamento AnualCusto Médio por JuizProcessos Anuais
Brasil (STF)11R$ 850 miR$ 77 mi> 70 mil
EUA (Supreme Court)9US$ 133 mi (~R$ 660 mi)R$ 73 mi~100
Reino Unido (Supreme Court)12£ 14 mi (~R$ 88 mi)R$ 7,3 mi< 100
Alemanha (BVerfG)16€ 34 mi (~R$ 190 mi)R$ 11,8 mi~5.000

O Brasil não apenas gasta mais por juiz, como julga um volume de processos milhares de vezes maior, evidenciando que o STF acumula funções de corte constitucional e tribunal recursal, além de atuar em primeira instância para autoridades com foro privilegiado.


O Que Fica de Fora

Enquanto o país discute votos de ministros, alguns temas essenciais são empurrados para o segundo plano:

  • Reforma tributária simplificada, que poderia reduzir a burocracia e atrair investimentos.

  • Reforma administrativa, para cortar privilégios e melhorar a eficiência do Estado.

  • Investimento em infraestrutura, para reduzir o custo logístico e aumentar a competitividade.

  • Modernização do setor de serviços, responsável por 70% do PIB, mas que ainda tem baixa produtividade.

Essas pautas têm impacto direto no crescimento econômico, na geração de empregos e na qualidade de vida — mas raramente mobilizam a opinião pública com a mesma força que um julgamento no Supremo.


Reflexão Final

A polarização política transformou o Brasil em um país que vive de crises semanais. O preço disso é alto: tempo perdido, energia desperdiçada e problemas estruturais sem solução. O cidadão paga essa conta duas vezes – no imposto embutido no café e no suco que consome e na falta de serviços públicos de qualidade.

Se o país conseguir deslocar parte da atenção que dá às disputas de poder para o debate de reformas estruturais, talvez possamos trocar a sensação de espetáculo permanente por um projeto real de desenvolvimento. Do contrário, continuaremos prisioneiros da cortina de fumaça, discutindo quem ganhou o último embate político, enquanto perdemos oportunidades de construir um futuro melhor.


Referências Bibliográficas

  • CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 2013.

  • LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2023.

  • MENDES, Gilmar; COELHO, Inocêncio; BRANCO, Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2023.

  • Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/

  • Portal da Transparência – Orçamento do STF. Disponível em: https://www.portaltransparencia.gov.br/

  • CLP – Centro de Liderança Pública. Custo do Parlamento Brasileiro. 2024. Disponível em: https://www.clp.org.br/

  • IBGE. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA. 2025.

Cenário Político e Jurídico atual 2025

 

STF, STJ e os Julgamentos que Moldam o Brasil: Uma Análise Completa dos Casos Lula, Bolsonaro e 8 de Janeiro

Nos últimos anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou de um tribunal visto como distante do cidadão comum para um ator central na vida política brasileira. Suas decisões deixaram de ser meras interpretações constitucionais e passaram a alterar o rumo de eleições, determinar prisões e redefinir os limites entre poderes. Esse protagonismo, que para alguns é necessário, para outros é sinal de excesso de poder, fica evidente em três grandes eixos: a anulação das condenações de Luiz Inácio Lula da Silva, os processos contra Jair Bolsonaro e os julgamentos relacionados aos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Para entender a dimensão dessas decisões, é preciso primeiro compreender o papel das cortes superiores, as diferenças entre STJ e STF e como cada uma atua em matéria penal.


STJ e STF: Entre Técnica e Constitucionalidade

O Brasil possui duas cortes superiores com funções distintas. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é conhecido como “Tribunal da Cidadania”. Sua função é uniformizar a interpretação da lei federal — Código Penal, Código de Processo Penal, Código Civil e outras normas infraconstitucionais. O STJ não reexamina provas, mas decide se a lei foi aplicada corretamente, garantindo isonomia entre decisões de tribunais regionais.

O Supremo Tribunal Federal (STF), por sua vez, é o guardião da Constituição Federal. Sua função é analisar se houve violação de princípios constitucionais, como o devido processo legal, o juiz natural, a ampla defesa e a liberdade de expressão. O STF atua em ações diretas de inconstitucionalidade, mandados de segurança, habeas corpus e recursos extraordinários — sempre quando existe um ponto de natureza constitucional.

Na teoria, o STJ é a última instância técnica e o STF só atua quando há clara violação à Constituição. Na prática, o STF tem assumido cada vez mais processos penais de grande repercussão, revisando decisões do STJ e instruindo inquéritos contra autoridades, o que gera uma disputa silenciosa de protagonismo entre as cortes.


Caso Lula: Da Condenação à Elegibilidade

Lula foi condenado em dois processos pela 13ª Vara Federal de Curitiba: o caso do tríplex do Guarujá (pelo então juiz Sérgio Moro) e o caso do sítio de Atibaia (pela juíza Gabriela Hardt). As condenações foram confirmadas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e revisadas pelo STJ, que apenas reduziu a pena no primeiro caso.

A virada ocorreu em março de 2021. O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, decidiu de forma monocrática anular todas as condenações por entender que a 13ª Vara de Curitiba era incompetente para julgá-las, já que os casos não tinham relação direta com a Petrobras. Fachin determinou a remessa para a Justiça Federal do Distrito Federal.

Em abril de 2021, o plenário do STF confirmou a decisão por oito votos a três, devolvendo a Lula os direitos políticos e permitindo que ele disputasse a eleição presidencial de 2022.

Quem Foram os Ministros e Como Votaram

MinistroVotoIndicado porFormação / Especialidade
Edson Fachin (relator)A favorDilma RousseffProfessor e doutor em Direito Civil (PUC-SP), especialista em Constitucional e Agrário.
Alexandre de MoraesA favorMichel TemerDoutor em Direito do Estado (USP), ex-ministro da Justiça; especialista em Constitucional e Administrativo.
Cármen LúciaA favorLuiz Inácio Lula da SilvaDoutora em Direito do Estado, professora de Direito Constitucional.
Rosa WeberA favorDilma RousseffJuíza de carreira, ex-ministra do TST, especialista em Direito do Trabalho.
Dias ToffoliA favorLuiz Inácio Lula da SilvaEx-Advogado-Geral da União, especialista em Constitucional e Eleitoral.
Gilmar MendesA favorFernando Henrique CardosoDoutor em Direito Constitucional (Universidade de Münster, Alemanha), ex-Advogado-Geral da União.
Ricardo LewandowskiA favorLuiz Inácio Lula da SilvaProfessor de Direito Constitucional, mestre e doutor pela USP.
Luiz Fux (presidente à época)A favorDilma RousseffDesembargador de carreira, professor de Processo Civil e presidente da comissão do novo CPC.
Luís Roberto BarrosoContraDilma RousseffProfessor de Constitucional (UERJ), advogado e especialista em Direitos Fundamentais.
Marco Aurélio MelloContraFernando CollorMagistrado de carreira (TST), conhecido por perfil garantista.
Kassio Nunes MarquesContraJair BolsonaroDesembargador federal (TRF-1), especialista em Direito Público.

Essa decisão não declarou Lula inocente. Apenas restaurou sua presunção de inocência, anulando o processo por vício de competência. Politicamente, foi o ponto de virada que permitiu sua volta ao cenário eleitoral.


Caso Bolsonaro: Primeira Turma no Centro das Decisões

Os processos contra Jair Bolsonaro no STF envolvem acusações de incitação a golpe de Estado e participação em atos que teriam incentivado os eventos de 8 de janeiro de 2023. Essas ações são julgadas pela Primeira Turma do STF, composta por:

  • Alexandre de Moraes (relator) – Indicado por Michel Temer em 2017, doutor em Direito do Estado (USP), ex-ministro da Justiça. É o magistrado mais ativo em inquéritos sobre ataques à democracia e desinformação.

  • Flávio Dino – Indicado por Lula em 2024, ex-juiz federal, ex-ministro da Justiça e ex-governador do Maranhão.

  • Luiz Fux – Indicado por Dilma Rousseff em 2011, desembargador de carreira, professor de Processo Civil e ex-presidente do STF.

  • Cármen Lúcia – Indicada por Lula em 2006, professora de Constitucional, reconhecida por independência e rigor técnico.

  • Cristiano Zanin – Indicado por Lula em 2023, advogado de carreira, defensor de Lula na Lava Jato, especialista em Constitucional e Processual.

A presença de três ministros indicados por Lula gera críticas de parcialidade, mas juridicamente não há impedimento automático. A Constituição presume a imparcialidade dos ministros e cabe à defesa apresentar pedidos de suspeição com base em fatos concretos.

O Papel de Alexandre de Moraes

Um ponto sensível é o duplo papel exercido por Alexandre de Moraes. Ele atua como relator, conduzindo o inquérito, determinando diligências, prisões e quebras de sigilo, e depois participa do julgamento de mérito. O STF foi alvo dos ataques de 8 de janeiro, o que faz de Moraes vítima institucional e juiz ao mesmo tempo. As defesas alegam que isso fere o princípio do juiz imparcial e do sistema acusatório, previsto no artigo 129 da Constituição, que separa funções de investigação, acusação e julgamento.

O STF responde que a relatoria é atribuição regimental e que as decisões são colegiadas, submetidas ao contraditório, não configurando parcialidade automática. Ainda assim, a discussão é relevante e pode impactar a percepção pública de justiça.

O Voto de Luiz Fux

O ministro Luiz Fux se destacou ao apresentar um voto com tom mais garantista. Fux afirmou que, embora os eventos de 8 de janeiro fossem gravíssimos, a responsabilização penal exige provas diretas de participação nos atos executórios de tentativa de golpe. Segundo ele, manifestações políticas, ainda que inflamadas, não são suficientes para configurar o crime sem vínculo causal comprovado.

Seu voto foi pela absolvição de Bolsonaro da acusação de tentativa de golpe, mas reconheceu outras responsabilidades e medidas de contenção. Esse posicionamento reforçou a importância da individualização da conduta e do respeito ao devido processo legal.


8 de Janeiro: O STF Como Tribunal de Massa

Os ataques de 8 de janeiro resultaram em milhares de prisões. Alexandre de Moraes centralizou os processos no STF, inclusive de pessoas sem foro privilegiado. O argumento foi evitar decisões conflitantes e garantir uniformidade na punição de crimes contra o Estado Democrático de Direito.

O resultado foi a transformação do STF em tribunal de primeira e única instância para centenas de pessoas. As penas têm variado de 12 a 17 anos de prisão. Juristas criticam a supressão do duplo grau de jurisdição, que é princípio básico de justiça, e o risco de sobrecarregar o Supremo com tarefas de instrução processual.


A Qualificação dos Ministros e a Sabatina

Para ser ministro do STF, a Constituição exige apenas notável saber jurídico e reputação ilibada. Não há exigência de experiência prévia como juiz criminal. Muitos ministros são professores ou advogados. A sabatina no Senado é predominantemente política, sem avaliação profunda do conhecimento técnico penal.

Essa característica explica parte das críticas de que o STF, ao julgar casos criminais complexos, não é a instância mais adequada para instrução de provas, mas sim para revisão constitucional.


Reflexão Final

O STF tornou-se ator central da política brasileira. Suas decisões moldam eleições, definem rumos de investigações e podem alterar o equilíbrio de poderes. A tensão com o STJ é evidente: o STJ é mais técnico e menos politizado, mas tem sido superado pelo STF quando este entende haver violação constitucional.

A decisão que devolveu a Lula os direitos políticos foi juridicamente fundamentada, mas politicamente decisiva. O julgamento de Bolsonaro e a condução dos processos de 8 de janeiro mostram que o Supremo acumulou funções de investigador, juiz e guardião da democracia.

Para o futuro, o desafio é equilibrar o papel constitucional do STF com a preservação da imparcialidade e da confiança pública. Reformas que limitem o foro privilegiado, fortaleçam as instâncias inferiores e tornem mais técnica a escolha de ministros podem devolver ao Supremo o papel de corte constitucional, reduzindo sua atuação como tribunal penal de massa e garantindo maior legitimidade às suas decisões.


Sobre Edson Fachin

Antes de ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal em 2015, Edson Fachin já era uma figura conhecida no meio jurídico e acadêmico, especialmente por sua atuação em temas de direito civil, agrário e constitucional. Em entrevistas e publicações, destacou seu interesse histórico pela reforma agrária e pela função social da terra, o que gerou polêmica durante sua indicação ao STF. Embora tenha manifestado simpatia pelas pautas de movimentos sociais, como o MST, Fachin negou ter sido advogado do movimento e sempre defendeu que manifestações devem ocorrer dentro dos limites da lei e da Constituição.

Fontes e Confirmações

  • Projeto Comprova realizou uma checagem em 2022, examinando tuítes que alegavam que Fachin tivesse sido advogado do MST. Projeto Comprova+1

  • A entrevista original à DHPAZ (2014) é confirmada como genuína. Fachin fala de sua vida acadêmica, de sua ligação com questões sociais e da reforma agrária, mas nega ter sido advogado do MST. Poder360+1

  • O curriculum que Fachin apresentou ao Senado quando foi sabatinado em 2015 também não menciona nenhuma atuação como advogado do MST. Projeto Comprova+1


Trechos Confirmados das Falas de Fachin em 2014 (Entrevista DHPAZ)

Aqui vão as falas literais ou bem próximas do original, com contexto:

  1. “... quando entrei na universidade e posterior trabalho como advogado, acabei me ligando à questão da terra e à luta pela reforma agrária.”

    • Nesse trecho, Fachin reconhece que, como estudante e advogado (na fase anterior ao STF), teve envolvimento com debates ligados à reforma agrária. Projeto Comprova+1

  2. “... fui procurador-geral do Incra em 1985 … participei de cargos no Paraná ligados a terras, cartografia e florestas …”

    • Ele faz referência a cargos públicos relacionados ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e trabalho com órgãos estaduais do Paraná ligados à terra, cartografia e florestas. Projeto Comprova+1

  3. “Algumas dessas ações, em determinados momentos, não obstante que carregue reivindicações legítimas, desbordam da lei. Mas aí … a lei é, evidentemente, o limite desse tipo de manifestação.”

    • Aqui ele fala sobre movimentos sociais ou manifestações — ele afirma apoiar reivindicações legítimas, mas ressalva que devem respeitar a legalidade. Projeto Comprova+1

  4. “Em 1978, escrevi um trabalho sobre partidos políticos no qual minha conclusão foi que o único partido que poderia ser chamado por esse nome era o Partido dos Trabalhadores, que tinha um programa de transformação do Brasil.”

    • Esse é um trecho que mostra uma visão política durante sua formação, mas não é afirmação de militância formal ou de advocacia para movimentos. Poder360+1


O que Fachin Negou / O Que Não Foi Confirmado

  • Fachin nega ter sido advogado do MST. Ele afirmou isto explicitamente ao Projeto Comprova. Projeto Comprova+1

  • Seu currículo ao Senado e sabatina não registram serviços jurídicos para o MST. Projeto Comprova+1

  • O MST também confirmou que nunca teve Fachin como advogado ou atuou formalmente com ele. Projeto Comprova



Bibliografia

1. Fontes Acadêmicas e Doutrinárias

  • CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 2013.
    – Uma das obras mais respeitadas sobre direito constitucional, usada como base no STF.

  • MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo; COELHO, Inocêncio Mártires. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2023.
    – Livro de referência que explica competências do STF, STJ e princípios constitucionais.

  • MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2023.
    – Didático, amplamente utilizado em concursos e faculdades, escrito pelo próprio ministro do STF.

  • BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: Os Conceitos Fundamentais e a Construção do Novo Modelo. São Paulo: Saraiva, 2021.
    – Análise moderna da atuação do STF, direitos fundamentais e ativismo judicial.

  • SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2020.
    – Ótima base para entender decisões sobre garantias processuais.

  • LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2023.
    – Abordagem objetiva, útil para contextualizar competências e funções das cortes.


2. Fontes Institucionais


3. Fontes Jornalísticas e de Checagem


4. Documentos e Decisões Relevantes

  • HC 164.493/PR – Julgamento da suspeição de Sérgio Moro.

  • HC 193.726 – Decisão monocrática de Edson Fachin sobre a incompetência da 13ª Vara de Curitiba.

  • Sessão Plenária de 15/04/2021 – Confirmação da decisão de Fachin, 8x3.

  • Decisões do Inquérito 4921 – Que apura atos antidemocráticos e investiga Bolsonaro e aliados.

Todas essas decisões podem ser acessadas no site do STF (https://jurisprudencia.stf.jus.br/).


5. Fontes Complementares e Entrevistas

  • Entrevista DHPAZ de Edson Fachin (2014) – Depoimento histórico, disponível no acervo da Universidade Federal do Paraná.

  • Artigos de opinião de ex-ministros (Nelson Jobim, Joaquim Barbosa) sobre ativismo judicial – Folha de S.Paulo, O Globo.

  • Livros de História Recente:

    • SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

    • NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.


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